“Estou firme, não me filme.
Estou firme”
“Ponto de Força” veio ao mundo através do canal Mundo ao Norte no Youtube em maio de 2020 e hoje já passa dos 3 milhões de views. A música é uma união entre Onni,Angola, Guizo & Sant, com produção musical de Asiri e mixagem e masterização por Luiz Café.
Com um instrumental emocionante, letra forte e temas que pautam as discussões na sociedade como racismo, questões de classe e até a mercantilização do Rap e as contradições que o capitalismo traz, cada artista demonstra sob seu ponto de vista de onde vem a força para se manter firme na caminhada, seja no Rap ou na vida. Tudo isso somado a um refrão de Angola, sensível e direto em sua mensagem.
“O olho também fala, quando fala dá pra ver
Não compare a ninguém, nem deixe comparar você
Se a razão conhece a vontade, quem escolhe?”
A obra começa com Onni usando seus dramas como matéria prima, refletindo sobre as dificuldades que a vida nos apresenta e como não temos tempo para parar e assimilar a tempestade que cai, ainda mais sendo um jovem negro no Brasil.
O artista fala também sobre ancestralidade e tece críticas à industrialização da cena do hip hop, discutindo sobre a ideia de que a quantidade redundante de lançamentos acaba, de certa forma, desvalorizando o fazer artístico. Porém, Onni reconhece que a capitalização dos dramas e vivências da favela possui um paradoxal e cruel sentido de sobrevivência em um mundo capitalista. Onni termina fazendo uma referência a música "Capítulo 4, Versículo 3" Racionais MC 's.
“Por isso, firme o ponto, cante pelo sangue que derramei
Já Guizo fala em suas linhas sobre o racismo nas abordagens policiais e o tratamento diferente dado à população negra. Repleto de referências, que vem desde o icônico Jazzman John Coltrane, passando pelo criador do afrobeat, Fela kuti, o rapper cearense Don L e também fazendo menção à música “Strange Fruit” de Abel Meeropol, e regravado por vozes como Nina Simone e Billie Holiday.
A canção fala sobre o linchamento e de um homem negro no sul dos Estados Unidos e os “frutos esquisitos” seriam uma analogia a pessoas pretas que foram cruelmente enforcadas no tronco de árvores.
Os últimos versos expostos na música marcam o retorno de Sant ao Rap após sua aposentadoria prematura. O artista começa sua participação com linhas que trazem metáforas bíblicas - onde vê a fé movendo montanhas - , a seus colegas e ao próprio refrão da música, resposta direta aos versos do Onni sobre “não ter tempo pra chorar”, que poderia ser entendido sobre canalizar suas dores e escrever sobre:
“Hoje, as montanhas se movem
Cachoeiras quando cílios chovem
Onni, deixe que essas linhas molhem
Se a emoção conhece, o instinto quem escolheu”
Ponto de força é uma obra de arte que vem carregada de lirismo e angústia, e ainda sim repleta de esperança. Em seu instrumental, traz um tom épico acompanhado de um clássico beat de boombap com uma cadência propositalmente mais arrastada e uma atmosfera que lembra muito os clássicos do Rap brasileiro. Com um tema de trompete marcante, linhas reflexivas e imersivas, a obra se tornou um clássico automaticamente, assim como foi “Vida Loka parte 2” em sua época de lançamento. Sem dúvidas, Ponto de Força é uma música que veio para ficar em nossa memória.
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