O Trap é um gênero musical com origem em Atlanta, nos Estados Unidos que vem se desenvolvendo desde o início do nosso século, mas foi em meados dos anos 2010 que essa vertente do Rap começou a dar as caras por aqui. Suas melodias são bem marcadas com letras diretas e sem pudores, com inspiração na vivência e no estilo de vida dentro de um contexto urbano, passando por pautas como moda, tatuagens, vida noturna, tráfico de drogas, criminalidade, sexo e dinheiro. Tudo isso acompanhado de marcações fortes de bumbo, o icônico “808”, hi-hats com variações como navalhas interagindo com o flow dos artistas, sintetizadores e vozes esteticamente afinadas de maneira precisa usando ferramentas como auto-tune, resultando em um efeito característico do gênero, que marca a identidade artística.
Entre 2014 e 2016, o Trap estava em plena ascensão na cena internacional, e aqui deste lado do hemisfério começamos a ver o início do som se movimentando no underground. Despontaram artistas como Raffa Moreira, que junto com Dreyhan e Klyn,lançaram em Guarulhos(SP), o single “Fiat 1995”(2015), considerada uma das primeiras sonoridades com características reconhecidas como trap no hip hop nacional.Na faixa, os músicos falam sobre uma batida policial motivada por racismo.
“Leva enquadro pelos traços, saiu com as mãos pro alto
Calma na abordagem se o documento tem foto
Desculpa que é rotina, olha pra mim vê se posso
Se o carro é bom, relógio é pica, "eu mereço e posso!"
Sem assalto ou tráfico, breca a analogia
Fui educado, exerço o cargo tipo essa rima
Não chama de cachorreira, não mistura a fita
Dispenso o lek, tô relax sem beber codeína
A lei não gosta de preto com discernimento
Ando negro, falo negro, visto preto e sou suspeito”
(Fiat 1995- Raffa Moreira)
O Trap também é conhecido pela aposta na mistura com outros gêneros musicais e outros subgêneros do Rap. Em 2018, a Recayd Mob lança o hit “Plaqtudum”. O single foi um sucesso viral na época de seu lançamento, que já conta com mais de 20 Milhões de plays no spotify, é marcado pela união de elementos do Funk com o Trap, o que tornou o gênero mais direto e assimilável pelo público.
O cearense Matuê é um dos maiores nomes do Trap nacional. Seu aparecimento na cena se deu com uma série de singles lançados como “Anos Luz”(2017), “Quem manda é a 30”(2018) e a descontraída “Kenny G”(2019), que já ultrapassam a marca de 150 milhões de visualizações em seus respectivos clipes, começa a trilhar o caminho para ser um dos maiores nomes do Trap nacional. Foi em 2020, após cerca de um ano de sumiço de sua carreira solo, Tuê lança seu primeiro álbum "Máquina do Tempo”, atingindo a marca de maior álbum de estreia, de todos os gêneros no Spotify, extrapolando os limites do rap e do trap.
A cena do Trap nacional vem demarcando seu espaço no imaginário dos ouvintes e do mercado e conta com artistas que mostram, cada vez mais, sua autenticidade em seus sons.Bons exemplos são:MC Taya, Tasha & Tracie, Ebony, Sidoka, A banca Records e Drika Barbosa.
Artistas de outros gêneros musicais também trazem influências do trap em seus sons. É o caso de Vida Louca”, do MC Poze do Rodo. Lançada em abril de 2021, o cantor de funk carioca faz uma reflexão sobre sua condição atual e toda sua vivência como cria de favela no Rio de Janeiro, cantando a realidade.
Pois é, essa vida é muito louca,yeah
São vários mandadão que testa nossa fé
Mas se tiver mandado, volta de ré
(Vida Louca - Poze do Rodo)